As cartas que escreveu, não são as cartas que gostaria de ter escrito. As que escreveu são cheias de dor, amarguras, ressentimentos... Retratam sentimentos machucados de um jovem inocente, que amava e por esta razão era cego. Mas o jovem, volta e meia, tem seus insights, como quem sonha acordado. O cérebro velho cede seu espaço ao novo e em cada novo instante de compreensão e aprendizagem, ele cresce. Mas o tempo avança e somam-se às incertezas, dúvidas que vão se avolumando em um campo imaginário, que só quem o possui pode chegar a este reservatório de ilusões, para querelar consigo mesmo, em busca da razão perdida, obra da cegueira conferida pelo amor.
A idade daquele rapaz já não é mais aquela dos primeiros tempos em que ser feliz era algo tão natural que nem se percebia o estar feliz. E da casa dos vinte ele pula para a casa dos trinta. O campo das ilusões agora é mais vasto e quanto mais dúvidas e incertezas e ausências de verdades ele percebe e sente, mais dolorida fica sua alma e o homem tropeça, tropeça mas não cai; seu senso de equilíbrio o mantém firme e aprumado e ele segue seu caminho pela vida, da vida que tem que ser vivida, não aquela sonhada nos tempos da inocência juvenil. Tal qual uma mulher posta entre o homem que deve amar e o homem que realmente ama e gostaria de ter. As sensações entre o ter e o ser entram em conflito. A vida é assim, mas há quem simplifique tudo e, por isto mesmo, os impactos dos contrastes são percebidos como amenidades.
E o tempo carrega ele para a casa dos quarenta, quando as ilusões começam a se diluir e as incertezas começam a ganhar contornos afirmativos; as dúvidas petrificadas começam a ser tocadas por alguém que precisa melhora-las, burilando-as, para que cessem os incômodos da alma.
Vem o tempo e o leva a casa dos cinquenta, quando ele já perdeu toda inocência e sem esta, dentro dele quebra-se o fino cristal, que sintetiza seu amor pela vida, tudo dentro de um frágil coração de menino adulto;
Seus sonhos se desfazem e a arca das boas recordações se parte, esmigalhando o coração...
Ele olha para trás e nada vê, salvo uma infinita tangente percorrida, chamada vida.
E o homem segue sua sina como fardo de tristeza aceita.
As cartas, que importam as cartas se o que escreveu era o que o moía por dentro?
O que restou foram escombros de verdades, como uma cidade destruída pela insanidade da guerra.
O jovem que chegou a casa dos cinquenta morreu por dentro, mataram-lhe toda a inocência e as cartas que não escreveu eram as que tinham real valor, só Carolina não viu.
O que restou foram escombros de verdades, como uma cidade destruída pela insanidade da guerra.
O jovem que chegou a casa dos cinquenta morreu por dentro, mataram-lhe toda a inocência e as cartas que não escreveu eram as que tinham real valor, só Carolina não viu.
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