quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Mario Benedetti


SOU MEU HÓSPEDE

Sou meu hóspede noturno 
em doses mínimas 
e uso a noite
para despojar-me 
da modéstia 
e outras vaidades
procuro ser tratado
sem os prejuízos 
das boas-vindas
e com as cortesias
do silêncio
não coleciono padeceres
nem os sarcasmos 
que deixam marca
sou tão-só
meu hóspede
e trago uma pomba
que não é sinal de paz
mas sim pomba
como hóspede 
estritamente meu
no quadro-negro da noite 
traço uma linha
branca
      (De La Vida ese Parentesis)



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